segunda-feira, 15 de março de 2010

O Clima em Torres Vedras

Classificação climática

Quanto ao clima, não obstante o estado de desenvolvimento dos estudos e dos meios científicos e tecnológicos de o abordar, os autores estão de acordo: apesar da pequena dimensão do nosso País, ele é polimórfico, suficientemente diferenciado. Abundaria referir que, segundo a classificação de Kopper, o nosso País pertence a quatro tipos de clima.
Hermann Lautensach (1932 – 1988), propunha para o problema a divisão do país em «províncias climáticas», tendo em conta regiões marítimas, montanhosas e continentais. Designa as regiões marítimas, «províncias atlânticas»; nesta subdivisão, a «Província Atlântica Média» era assim caracterizada pelo notável geógrafo alemão: «estende-se desde o Mondego, para o sul aproximadamente até à latitude de Torres Vedras (39º N). O Verão e o Inverno são um pouco mais quentes que na província atlântica do Norte. Fraca continentalidade térmica. Chuvas anuais. Só a um a dois meses secos. Muitas trovoadas. Brisas do mar e de terra».
Orlando Ribeiro (1955 – 1988), analisando as condições climáticas do nosso País, defende posição algo diferente de H. Lautensach. Para o nosso mais ilustre geógrafo contemporâneo: «uma tonalidade comum permite demarcar no País os seus conjuntos climáticos fundamentais: ‘conjuntos’ e não ‘províncias’, porquanto é impossível traçar, no jogo essencialmente mutável das massas do ar, limites rigorosos».
Privilegia ele três grandes conjuntos: «o Norte Litoral ou Noroeste que se estende até aos areais da ria de Aveiro ou até ao Mondego, o Norte interior e o Sul de feição mediterrânica».
Assinala justamente que, «para Sul do Mondego, a faixa de clima comandado pelo Oceano vai-se tornado cada vez mais estreita, aumenta a temperatura e diminui a precipitação, apenas superior a 600 mm na Estremadura. A temperatura média é sensivelmente a mesma em qualquer estação meteorológica desta área de planuras ou de fracos relevos».
É neste quadro de referência que poderá colocar-se a tipologia climática do concelho de Torres Vedras.
Por fim, Suzanne Daveau (1988), comentando os dois geógrafos anteriores e abandonando-se, tanto em investigação própria, como em dados e estudos mais recentes e diversificados.
Está traçado o «esboço provisório das regiões climáticas de Portugal», publicado, pela primeira vez em 1980, pela geógrafa francesa há décadas radicada no nosso País.
Sublinha a autora que o «arranjo regional do clima de Portugal, apresenta um forte contraste oeste-leste, resultante da frequência decrescente da penetração das massas de ar, que se vão pouco a pouco modificando no contacto com o continente».




Com a devida cortesia, reproduz-se o mapa estabelecido por Suzanne Daveau e seus colaboradores para o «esboço provisório» antes referido.
Como se constata, o limite climático fundamental entre o Norte e o Sul, no seu bordo meridional, passa pela zona oriental do nosso concelho, o que confere, pela transição gradual que o próprio tracejado induz, ao clima da nossa região, características de relativa heterogeneidade.
Assim, haverá que considerar o clima francamente atlântico (sub tipo «litoral oeste»), de amplitude térmica bastante atenuada, raramente atingido pelas vagas de calor continental, relativamente chuvoso e marcado por nebulosidade de certa importância. Situando-se a nossa região na zona meridional deste tipo de clima, os seus caracteres já aparecem relativamente atenuados, nomeadamente pela maior duração da estação seca (esta, como se constata do quadro de precipitações, pode alargar-se, com valores desiguais, aos meses de Junho, Julho, Agosto e Setembro).
A leste da faixa litoral, Suzanne Daveau põe em evidência o subtipo climático designado por «fachada atlântica» - este abrange, sem dúvida, aqueles troços do nosso território, principalmente as terras baixas abrigadas dos ventos atlânticos, que apresentam já um toque climático continental.
A posição do território do concelho confere-lhe, assim, um cariz de transição que, para a autora, é justamente realçado com os dados da estação meteorológica de Dois Portos. Nas vertentes orientais das colinas mais afastadas do litoral, os dias ou períodos de cariz atlântico alternam caprichosamente com os de matriz continental. As terras baixas são frequentemente inundadas por nevoeiro persistente – o ar húmido, vindo do lado do mar durante o dia; ao arrefecer, durante as noites límpidas, atinge a temperatura do ponto de orvalho – de manha cedo e, por vezes, até meia manhã, os vales e terras baixas permanecem como que recobertos de finíssima faixa de algodão.
Em forma de conclusão, dir-se-á que o nosso clima, sendo pelos valores pluviométricos, atlântico, é-o moderadamente pela posição meridional do território; recebendo, principalmente nas zonas interiores e mais abrigadas, os efeitos continentais, a proximidade do mar atenua-os. Deste ponto de vista, os valores térmicos são claramente moderados, também porque os rigores do clima continental, nomeadamente os frios intensos e as geadas são aqui amenizados pelo efeito da vizinhança do Oceano.
Ao contrário da Estremadura, extremo histórico do nosso Reino dos primeiros tempos, o nosso clima é tudo menos de «extremos» - temperaturas marcadas, em média, pela suavidade, tanto no Verão como no Inverno, pluviosidade, também ela moderada pela feição extensa do período estival.


O Ciclo Anual
Hermann Lautensach: «A evolução do tempo de Portugal distingue-se, fundamentalmente, do que ocorre na Europa Central pelo facto de Julho e Agosto conhecerem uma quase estabilidade dos tipos de tempo, em contraste com a variabilidade dos outros meses do ano». Parafraseando o notável geógrafo, tentámos a seguinte análise aproximativa do nosso curso anual.


Meses de Julho-Agosto
No litoral, alternam brisas de terra e do mar («terral» e «mareiro») – as primeiras levam durante a noite uma massa de ar relativamente quente e húmida por cima da superfície da terra do mar. O arrefecimento da massa de ar provoca os nevoeiros, predominantemente matinais, tão característicos dos meses de Julho e Agosto no nosso litoral.
São meses de quase absoluta falta de chuva. Mesmo junto ao mar e sob efeito da nortada, as precipitações são mínimas. Apenas fortuitamente, quando a direcção do vento inverte para Sul ou Oeste, aparecem ligeiras precipitações.
Durante estes meses, alcançam-se os valores máximos e mínimos das médias climáticas.
Assim, naturalmente, a temperatura atinge os seus valores máximos, com relevo para Agosto que, confirmando com o autor Hermann Lautensach, demonstra o carácter atlântico do nosso clima.
Apesar da tão característica «nortada» do nosso litoral, os meses de Julho e Agosto não são os de maior intensidade; a direcção predominante do vento é de N e NW dá-nos um valor de moderação para máximos térmicos que se registam neste período.


O mês de Setembro
É ainda, por norma, um mês de Verão, quente e seco. A temperatura máxima media é idêntica à de Julho, mas mais baixa que a de Agosto. A temperatura média pouco difere da de Julho.
Usualmente, é nos últimos dias de Setembro que o tempo outonal se vai instalando. Daqui o aumento significativo das precipitações, acompanhadas nos valores de humanidade relativa do ar.
Neste tempo de meia estação, o vento abranda, os dias são de doce luminosidade, está-se no fim da estiagem: é o tempo da grande lida das vindimas.


O mês de Outubro
É o primeiro mês com características outonais nítidas.
Começam as primeiras manifestações do ar polar, com os ventos a refrescarem. Mediante a temperatura, nos seus valores máximos e médios, baixa. Mas em Outubro há dias de extrema luminosidade e até quentes. É o mês de maior suavidade quanto ao regime de ventos.
O efeito das depressões, carregadas de humidade, traz as primeiras chuvas relativamente abundantes. O efeito do ar setentrional pode, casualmente, formar-se as primeiras geadas.


Os meses de Novembro e Dezembro
São dois meses análogos.
Os valores da temperatura continuam a baixar, a entrada no Inverno que, com eles, se anuncia, leva a que neste tempo se registem temperaturas mínimas inferiores a 0º.
A precipitação e a humidade relativa do ar, inversamente, crescem, trazendo dias de céu encoberto, com nevoeiros, ainda assim intercolados por dias claros e luminosos, algo quentes, mas de noites frias.
Nas noites mais frescas, sobretudo nas de Dezembro, tornam-se proporcionalmente frequentes as geadas, acompanhadas pela formação de nevoeiros que se formam nos vales e terras baixas, ao fim das longas noites, em consequência do arrefecimento da superfície da terra. Como é típico, na nossa região o nevoeiro pode atingir a costa, enquanto o tempo se mantém limpo ao largo.


Os meses de Janeiro e Fevereiro
São para a nossa região os que apresentam os valores de temperatura mínima mais baixas.
Janeiro é ainda mês de precipitações relativamente elevadas e persistentes, é o mês de maior nebulosidade de todo o ano e também aquele em que se regista o maior teor de humidade relativa do ar.
Apesar das baixas temperaturas mínimas que então se registam, os dias destes meses são relativamente, temperados.
Ocasionalmente, depressões podem provocar fortes ventanias e precipitações anormalmente elevadas.


O mês de Março
Chuvoso, pouco soalheiro, irregular, é de forma geral, assim, que se apresenta este mês.
A temperatura anuncia o seu ciclo de subida, mas o número de dias chuvosos equivale ao de Fevereiro, sendo os valores pluviométricos registados aproximados ou mesmo superiores aos de Fevereiro, nomeadamente quanto ao máximo diário.
Ventos mais fortes que nos meses anteriores e mais persistentes, predominantes dos quadrantes de N e NE. Estes trazem a neve que cai persistentemente nas zonas altas. Na nossa região só muito esporadicamente se regista tal fenómeno e sempre com significado inexpressivo.


O mês de Abril
Menos chuvoso, mais quente, menos ventoso, mas ainda irregular. A subida das temperaturas mínimas aniquila, daqui até Outubro, a existência de geadas. A alta dos valores da temperatura é acompanhada pela diminuição da nebulosidade e da humidade.
Dias de temperatura cálida, que chama os primeiros adoradores de Sol às praias do litoral, alternados com tempo agrestes de chuva e vento, quase sempre de NW.



O mês de Maio
A subida das temperaturas médias e a diminuição acentuada dos valores da precipitação e da humidade são factores que definem este mês.
São as pequenas depressões locais, formadas devido ao desigual aquecimento do solo, que provocam ainda alguma irregularidade nos dias de chuva e na força e direcção dos ventos.
É o mês que prepara a transição para o tempo estival. Menor nebulosidade, temperaturas claramente superiores às de Abril, queda acentuada nos níveis pluviométricos, são os sinais de que o Verão está a chegar.


O mês de Junho
Se ainda permanecem alguns dos factores de instabilidade que conduzem o tempo de Maio, pelos valores da temperatura média, da precipitação, do número de dias de precipitação e até pela velocidade do vento se pode dizer que o tempo estival está a instalar-se.
Pelos valores da temperatura, nomeadamente as máximas médias é já um mês de Verão; pelos níveis de pluviosidade, bastante menores que nos meses anteriores, mas ainda é a despedida do tempo instável.
O ciclo anual fica, assim, encerrado.




Fonte: Torres Vedras – Passado e Presente (Volume I)
Marta Guedes, nº 13

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